
Alguns profissionais de saúde
estão erradamente recomendando que as mães parem de amamentar se forem
infectadas pelo coronavírus. O alerta é do doutor Cesar Victora em artigo
publicado, em fevereiro deste ano, pela Revista Lancet, uma das revistas
científicas mais conceituadas do mundo. O artigo apresenta evidências para
contribuir na decisão de políticas públicas relacionadas à amamentação e
infecção por Covid-19.
O texto, de
autoria do doutor Cesar Victora, médico brasileiro e uma das maiores
autoridades do mundo sobre amamentação, aborda as evidências disponíveis em
relação aos benefícios de manter a amamentação quando a mãe apresenta infecção
por Covid-19. O artigo reforça que já há evidências de alta qualidade que
mostram os benefícios do aleitamento materno exclusivo, do contato pele a pele
logo na primeira hora de vida, do cuidado responsivo na sobrevivência, saúde e
desenvolvimento infantil.
Mesmo
assumindo que existem altas taxas de transmissão de mãe para filho de
SARS-CoV-2 por contato e através do leite materno, as mortes adicionais entre
bebês recém-nascidos e bebês em países de baixa e média renda que fossem
separados das mães e não amamentados seria aproximadamente 67 vezes maior do
que o número de bebês recém-nascidos e bebês com probabilidade de morrer por
conta de Covid-19.
Segundo o
autor, a presença de moléculas de RNA SARS-CoV-2 no leite materno é uma
observação importante, mas não justifica uma decisão de saúde pública baseada
apenas neste achado. O doutor Cesar Victora ainda reforça que “não há nenhum
caso comprovado de transmissão do coronavírus pelo leite materno e, mesmo que
houvesse uma transmissão, o risco de morte devido a não amamentar seria quase
70 vezes superior ao eventual risco de uma criança após contrair Covid-19 pelo
leite materno. Apesar disso, há profissionais de saúde que estão erradamente
recomendando que as mães parem de amamentar se forem infectadas pelo
coronavírus”.
Como
reforço dessa questão, o artigo cita que o contato com a mãe ou a amamentação
não são as únicas maneiras dos bebês se contaminarem pela Covid-19. Em pesquisa
nacional brasileira, 13 (35%) dos 37 familiares de participantes com teste
positivo para anticorpos SARS-CoV-2 também testaram positivo, ou seja, a
transmissão também pode ocorrer por exposição a cuidadores infectados, mas
assintomáticos, em casa, em unidades de saúde ou na comunidade. Dessa forma,
para se ter a proteção completa do bebê, este deveria ser removido de sua
própria casa, o que é irreal.
O
coordenador internacional da Pastoral da Criança e doutor em Saúde Pública,
Nelson Arns Neumann, defende ser necessário apoiar que as mães contaminadas
pela Covid-19 tenham contato e continuem amamentando seus filhos, procurando
manter as medidas de prevenção de transmissão, como lavar as mãos e usar
máscaras faciais.
“Os
benefícios da amamentação sobre a sobrevivência infantil superam todas as
outras causas de morte que a falta dessa possa levar. A mensagem dos
profissionais de saúde para as famílias sobre o apoio à amamentação deve ser
clara”, afirma.
Pastoral da Criança
A Pastoral
da Criança, há mais de 37 anos, vem apoiando a amamentação acreditando que é
dever de toda a comunidade criar condições para as mães amamentarem e promover
o aleitamento materno.
Hoje, por
meio do Aplicativo Visita Domiciliar e Nutrição, todos os voluntários e
famílias acompanhadas recebem informações confiáveis e alertas sobre qualquer
atualização sobre a pandemia no “e-Combate ao Coronavírus”, com base nas
informações da Organização Mundial da Saúde, Sociedade Brasileira de Pediatria,
Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia e protocolos do Ministério da
Saúde.
No link abaixo é possível
acessar dados sobre a atuação da Pastoral da Criança em defesa do aleitamento,
números e demais informações sobre todas as ações realizadas:
Relatório Anual da Pastoral da
Criança 2020
O artigo completo da Revista
Lancet pode ser encontrado em:
https://www.thelancet.com/journals/langlo/article/PIIS2214-109X(20)30538-6/fulltext